Lc 10,38-42

Jesus e os discípulos seguiam o seu caminho. Ao entrarem numa aldeia, uma mulher chamada Marta recebeu Jesus em sua casa. 39 Ela tinha uma irmã chamada Maria, que se sentou aos pés do Senhor para o ouvir. 40 Ora Marta andava muito atarefada, por ter muito que fazer. Aproximou-se e disse: Senhor, não te preocupa que a minha irmã me deixe só com todo o trabalho? Diz-lhe então que me venha ajudar. 41 Mas Jesus respondeu: Marta, Marta, andas preocupada e aflita com tantas coisas, 42 quando uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada.


Marta e Maria, são as duas principais personagens desta passagens bíblica. Sabemos no entanto, pelo evangelho de João( 11,1), que eram irmãs e que havia mais um familiar que vivia com elas, que os irmãos conhecem. Também lá estava Lázaro que Lucas não menciona, porque a sua intenção foi somente descrever a atitude de Jesus neste caso e o evangelista não se preocupou em nos “apresentar toda a família”.

Lucas diz que Marta recebeu Jesus em sua casa, pelo que suponho que seria uma viúva, que tinha herdado a casa do seu marido, pois se a herdassem dos seus pais, a casa seria só de Lázaro, de acordo com as leis dessa época em que as filhas só eram herdeiras se não houvesse filhos.(Deut, 21,15)

Talvez Lázaro fosse o mais novo, ainda um jovem, pelo que nem é mencionado por Lucas.

Estas duas irmãs, Marta e Maria, pode-se dizer que representam duas maneiras de seguir a Jesus, que ainda hoje vemos na nossa igreja.

É interessante que Lucas descreve este acontecimento logo a seguir à parábola do Bom Samaritano.... Haverá alguma relação nesta sequência que Lucas dá no seu evangelho?


Penso que sim, pois na parábola do Bom Samaritano, que os irmãos conhecem bem, temos uma exortação à prática da religião que produz frutos, que mostra as suas obras. Talvez Lucas, quando escreveu a parábola do Bom Samaritano, tenha pensado....... Quem ler isto, vai certamente dizer: Então é isto que Cristo deseja. Nesta parábola do Bom Samaritano está bem claro que o importante são as ações e não a parte devocional, pois Jesus elogiou o Samaritano que teve a iniciativa de ajudar e não o sacerdote ou levita... Então, para que ninguém pensasse numa salvação através das obras, Lucas coloca esta descrição do que se passou em casa de Marta, em que Jesus elogiou Maria que esteve aos seus pés, ouvindo os seus ensinos.

Vejamos, como conciliar estes dois ensinos, aparentemente opostos, da parábola do Bom Samaritano, e da atitude de Jesus em casa de Marta.....

Se olharmos para o que se passa na nossa igreja, penso que todos nós temos uma certa tendência para enveredar pela nossa identificação ou como Marta ou como Maria, pois raros são os que conseguem manter um equilíbrio entre o que poderíamos chamar de “cristianismo devocional” e um “cristianismo operacional”.

Normalmente, ou nos tornamos cada vez mais eficientes na parte operacional como a elaboração das atas , ou o arranjo das flores, os relatórios, ou chá , as contas da igreja... etc, acabando por negligenciar a parte devocional, ou pelo contrário, nos dedicamos às pregações e estudos bíblicos e não temos tempo para os outros trabalhos da igreja.

Martas e Marias, HOJE? O que devo fazer? Só rezar? Só trabalhar?

Mas então.... quem irá limpar e preparar a igreja? Quem irá preparar e arranjar as flores?

Não é nada fácil responder à pergunta que é colocada.

Depois de pensar no assunto, julgo que ambas as irmãs, tanto Marta como Maria, queriam seguir verdadeiramente a Cristo e comprometidas com o Reino de Deus, mas o relacionamento delas com o Mestre apontava para direções e objetivos completamente opostos.

Maria queria estar diante de Jesus, para aprender, para ouvir, para adorar, para alegrar-se, para se aconselhar expondo os seus sentimentos abrindo a sua alma perante o Senhor.

Marta, queria apresentar um bom trabalho, a casa limpa e bem arrumada, a comida gostosa, queria tudo impecável para receber o Mestre.

Mas........ então? Haverá algum mal nisso? Não fazia Marta, todo esse trabalho por amor do Mestre?........

Certamente que as duas atitudes são necessárias. Jesus não disse que Marta tivesse procedido mal. Coitada.... ela era bem intencionada, mas com a sua preocupação com as coisas materiais, ela descuidava, esquecia-se do seu próprio alimento espiritual.

Penso que Marta não estava em pecado, mas estava no que poderíamos chamar de pobreza espiritual

.


Ela foi talvez a primeira dum tipo de pessoas do cristianismo dos nossos dias, que são pessoas boas, pessoas muito comprometidas com um cristianismo social, inteiramente absorvidas nos seus trabalhos, mas interiormente desiludidas, frustradas espiritualmente, porque toda a sua atenção está tão voltada para o seu serviço que não têm tempo para buscar a comunhão com o Senhor. Quando muito vão a Missa dominical.A Bíblia é um enfeite em casa.

Perderam o hábito de buscar a comunhão com o Senhor em oração, que consideram pura perda de tempo. Todo o tempo disponível é para o seu trabalho na igreja, mas sempre em aspectos materiais, pois não lhes resta tempo para ouvir a Jesus.


Marta não compreendeu o que mais agradaria a Jesus.

Ela utilizou outras prioridades que não eram as prioridades do Mestre, mas as prioridades da sua própria maneira de pensar, da sua tradição, da sua cultura.

Ela quis iniciar logo o trabalho, sem ouvir primeiro a Jesus.Quando dizemos que a reunião do Conselho da Comunidade ou a Assembleia da Igreja ou o Sínodo correu bem, se perguntarmos porque é que correu bem, normalmente as respostas que ouvimos são: Correu tudo bem porque todos os relatórios foram aprovados, as contas estavam certinhas, houve bons alojamentos para todos... a comida estava ótima....

Será que a mentalidade de Marta já passou à história, ou ainda permanece nos nossos dias?

Certamente que tudo isso é importante. O serviço de Marta é importante, é imprescindível nas igrejas dos nossos dias.

Mas, há tempo para tudo. Tempo para estar com Jesus e tempo para servir a Jesus.


Esta sequência é muito importante e não pode ser invertida. Não podemos começar por servir ao Senhor, sem primeiro o ouvir.

Se queremos ser cristãos eficientes, primeiro temos de estar com Jesus, ouvir os seus ensinos, compreender os seus métodos de trabalho, receber as suas instruções, porque só depois disso, estaremos aptos para trabalhar para ele.

O grande perigo, de uma maneira geral, da nossa igreja(pessoas) dos nossos dias é a mentalidade de Marta.

É o perigo de nos transformarmos em Martas com muita atividade e pouca dependência do Senhor.


Certamente que a Igreja não pode ser indiferente aos problemas sociais, mas essa não é a sua principal função.

A principal função da Igreja, que está um pouco esquecida nos nossos dias, é a proclamação da mensagem do Evangelho, é a mensagem de que o homem está perdido e condenado à eterna destruição (eles já contam com isso), mas que a solução não está nos sistemas econômicos, não está no acumular das riquezas, nem está na Igreja, mas sim somente Jesus Cristo é a solução.

Até que o Senhor volte, haverá sempre Marias e haverá sempre Martas, e graças a Deus pelas duas. É bom que cada um de nós tenha um pouco de Maria e um pouco de Marta, pois a igreja necessita das duas.

Não podemos pensar em ir a igreja, se não for para ter um encontro pessoal com Nosso Senhor, ouvi-lo verdadeiramente, não dispersar nossa mente, achar que a missa é muito comprida é "chata", ou ainda ao chegar no final da missa o que levamos para casa quando muito é o recado que foi dado no final dela, para as reuniões da semana os serviços, etc...o que pessoalmente discordo, pois a atenção dos fiéis é desviada pelos vários anúncios de assuntos a tratar , não a pensar na mensagem que ouviram, mas a pensar nos vários assuntos que têm de resolver... Penso que é um mal necessário, pois há sempre trabalhos que têm de ser feitos, mas devemos estar atentos para não nos acontecer como aconteceu a Marta, para não nos deixarmos absorver pelos vários assuntos a tratar a ponto de prejudicarmos a nossa comunhão com o Senhor.

Poderíamos criar um modo de passar os avisos antes da missa.Assim a mensagem que ficará ao terminar a missa, será a da homilia.

Mas vejamos a atitude de Marta quando disse: Senhor, não te preocupa que a minha irmã..... Há geralmente uma certa tendência de nós, tipo Marta julgarem que o seu trabalho é o mais importante.

Marta não compreendeu a atitude de Maria e tentou converter Maria à sua mentalidade, pois para ela, só o trabalho material é que contava.

Marta é o tipo de pessoa que é responsável por isto e por aquilo e mais aquilo, é o “cristão indispensável” que acumula todos os cargos possíveis, que corre para cá e para lá e nunca tem tempo para nada, nem mesmo para orar...

São Francisco de Assis, dizia:"Que é bom fazer poucas coisas, e faze-las muito bem"

Muitas vezes, não tanto por culpa própria, mas as circunstâncias e a falta de colaboração dos outros, podem transformar-nos em Martas, acumulando-nos com responsabilidades a ponto de nos roubar o tempo para estar a sós com o Mestre e compreender as suas prioridades.

Quantas pessoas há na igreja, que apresentam trabalho eficiente e útil sob o aspecto material, mas que são incapazes de dirigir uma oração ao Senhor.

Situação bem triste, pois afinal, toda a Igreja beneficia do trabalho dessa pessoa continuando ela própria em pobreza espiritual por falta de tempo para estar com Jesus.

Esta passagem mostra, que não é só o pecado que nos pode afastar de Jesus.

Muitas vezes, pode acontecer-nos como aconteceu a Marta em que foram os próprios trabalhos que ela fazia para Jesus, que a impediram de estar com o Mestre.

Mas qual será o significado da afirmação de Jesus de que Uma só coisa é necessária?

Será que as outras coisas não eram necessárias?

Penso que Jesus, com essa expressão, queria realçar a suprema necessidade da proclamação do Evangelho.

Há muitas coisas que são boas.... e são lícitas: A saúde, o dinheiro, a posição social, a prosperidade, tudo isso é bom é lícito.

Não há mal nenhum nisso.

Mas, há muitos que vivem sem ter saúde, sem ter o dinheiro necessário e sem terem uma vida próspera.

Não devemos ser indiferentes a essas necessidades, mas o que não podemos é considerá-las prioritárias em relação à pregação do Evangelho.

A Graça de Deus e a salvação de Jesus é a maior prioridade.

A princípio isto pode levantar algumas dúvidas, mas à medida que os anos vão passando, por mais que se faça, os cabelos brancos aparecem, a saúde vai enfraquecendo, o dinheiro acaba-se, ou pelo menos diminui, a posição social também se acaba quando chegamos à idade da reforma e quando já velhos, não podemos trabalhar, não podemos pensar em prosperidade, mas a salvação de Jesus, essa nunca acaba.

Não será essa a única coisa necessária? As outras são lícitas, mas são secundárias. A salvação em Jesus é a única coisa que é prioritária.

Há um ditado popular que diz que nada levaremos deste mundo,.... mas penso que não é verdade.

A salvação em Jesus, essa permanece para sempre. Essa levaremos conosco, pois foi o Mestre que assim o prometeu.

Podemos dizer que ambas as atividades, de Maria e de Marta, são necessárias, mas se queremos ser cristãos conscientes, cristãos adultos espiritualmente, cristãos úteis à igreja, temos de nos preocupar com ambas as atividades, mas, como já dissemos, há uma sequência que é muito importante:

Primeiro devemos acompanhar Maria, devemos sentar-nos aos pés de Jesus, para ouvir o Mestre, pois sem ele, nada de útil poderemos fazer.

O mal de Marta, não foi o fato de trabalhar para Jesus, mas o fato de ter tentado ser útil sem primeiro tentar compreender o que o Mestre queria dela.

Trabalhar para Jesus sem primeiro o ouvir, apesar de toda a nossa boa vontade, levar-nos-à a servi-lo de acordo com os métodos deste mundo, que nem sempre são válidos no Reino de Deus.

Há uma diferença básica entre a visão do homem secularizado e a visão do cristão.

Isto nos leva a perguntar: Quem está no centro da nossa vida, dos nossos pensamentos, das nossas orações e das nossas ações? Quem ordena e orienta nossa vida?

Que a nossa atitude não seja apenas a de Marta, nem apenas a de Maria... mas a de Marta e de Maria, juntas, se completando em nós...

LEITURA ORANTE
Lc 10,38-42 - Marta e Maria
Preparo-me para a Leitura Orante, rezando:
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Creio, Senhor Jesus, que sou parte de seu Corpo.
Trindade Santíssima
- Pai, Filho, Espírito Santo -
presente e agindo na Igreja e na profundidade do meu ser.
Eu vos adoro, amo e agradeço.


1. Leitura (Verdade)
O que diz o texto do dia?
Leio atentamente o texto Lc 10,38-42, e observo as atitudes e palavras de Jesus


Entramos agora numa casa que acolhe o pregador. Duas irmãs: Marta e Maria. Os doutores daquele tempo não explicavam a lei às mulheres. Jesus faz isto. Enquanto Marta serve, Maria escuta. Jesus chama a atenção de Marta. Não porque serve e trabalha, mas porque estava "ocupada, agitada e preocupada com muitas coisas". Como na parábola do semeador, as preocupações podem abafar ou impedir a escuta.
Maria é elogiada, não por estar sentada, acomodada, mas por ter escolhido "a melhor de todas as coisas, a escuta da Palavra do Mestre".
A escuta da Palavra de Deus deve ter prioridade em relação as nossas ocupações do dia-a-dia.
O Evangelho de hoje não conclui qual foi a decisão de Marta, após as palavras de Jesus. Provavelmente foi se acalmar aos pés do Mestre. E, no fim deste momento especial, Maria e Marta foram, juntas, preparar a refeição.


2. Meditação (Caminho)
O que o texto diz para mim, hoje?
Como me organizo em minhas atividades? Tenho muitas preocupações e agito-me com muitas coisas como Marta?
Ou, sou capaz de escolher a "melhor parte", à escuta da Palavra? Como Marta implico-me que outras pessoas ficam tranquilas , "sentadas", em oração ou à escuta da Palavra?
Consigo ser uma pessoa ativa e reflexiva, ao mesmo tempo?
Recordando o que disseram os bispos em Aparecida: Jesus faz dos discípulos seus familiares, porque compartilha com eles a mesma vida que procede do Pai e lhes pede, como discípulos, uma união íntima com Ele, obediência à Palavra do Pai, para produzir frutos de amor em abundância. (DA, 133).


3.Oração (Vida)
O que o texto me leva a dizer a Deus?
Rezo, espontaneamente, com salmos ou outras orações e concluo:
Agradeço-te, meu Deus,
porque me chamaste,
tirando-me das minhas ocupações do dia-a-dia,
muitas vezes difíceis e pesadas,
para aqui me encontrar contigo.
Dispõe o meu coração na paz e na humildade
para poder ser por ti encontrado/a e ouvir a tua Palavra.


4.Contemplação (Vida e Missão)
Qual meu novo olhar a partir da Palavra?
Meu novo olhar é acompanhado de atenta escuta da Palavra de Deus que quer se revelar a cada instante de meu dia.


Bênção Bíblica
O Senhor o abençoe e guarde!
O Senhor lhe mostre seu rosto brilhante e tenha piedade de você!
O Senhor lhe mostre seu rosto e lhe conceda a paz!' (Nm 6,24-27).

NÃO ESQUEÇA DE LEVAR SUA BÍBLIA HOJE ÀS 18 HORAS, NA CATEDRAL, VAMOS LÁ TODOS HOJE E SEMPRE SÃO CHAMADOS A SER MARIA.

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